sexta-feira, 15 de abril de 2011

Júlio... [2]

Vocês devem estar se perguntando com quem estou morando, né? (Respondo no final.)

Bom, antes de mais nada, vou lhes contar uma história resumida do que aconteceu comigo antes disso...
Há alguns anos, vi uma matéria numa das publicações daquela religião, a qual me referia anteriormente, que falava sobre pornografia e masturbação. Eu, muito ingênuo que era, achei que por eu ter visto o primeiro e feito o segundo estava pecando seriamente contra Deus! Decidi contar pro meu pai e disse abertamente que a pornografia era homossexual. Ao contrário do que eu achei que fosse ser, meu pai não brigou comigo. Ele disse que entendia aquilo e que era uma fase pela qual todos passavam, mas que eu tinha que confessar tudo pros responsáveis pela "congregação", os quais aqui, chamarei de pastores.
Decidi contar para eles na reunião seguinte. E pra minha surpresa, a mesma reação do meu pai. Mas me advertiram que eu não voltasse a fazê-lo. Nada me aconteceu na época por causa do belo histórico que eu tinha construído com uma porção de teatrismo e falsidade. Sim, falsidade, não me privo de dizer. Na época eu não sabia o que fazer, era muito dependente dos meus pais e tinha que agradá-los se não quisesse viver em zona de guerra em casa...
Nunca fui aquele nerd bonzinho, inteligente, santinho e puro que as pessoas achavam que eu fosse. Às vezes sentia vontade de desistir de tudo, mas como? Não existiam saídas na época. Acredito que pra tudo tem um tempo e aquele ainda não era o meu.
Bem, depois disso pouca coisa aconteceu, mas no mês passado fiz uma coisa que deixou meus pais de orelhas em pé. Fui a uma boate gay pela primeira vez na vida. É lógico que eles não sabiam de nada, mas eu não soube administrar a situação que eu tinha criado. Veja: Eu disse que ia sair com uns amigos da "congregação" e não sabia a hora que iria voltar. Citei alguns deles pra não deixar dúvidas. O propósito daquela saída não foi exatamente ir à boate, até porque foi de última hora. Tinha saído mesmo porque havia combinado com um amigo de sair pra conversar em algum lugar, porque eu realmente estava precisando conversar com alguém naquele momento, não lembro exatamente por quê. Enfim, meu celular descarregou e eu não tive como avisar que iria demorar. Eu já estava na companhia de uma galera legal, bonita, quando me dei conta de que eu ia mesmo, pela primeira vez entrar numa boate gay. Empolguei-me, lógico! Mas não pensei nas consequencias daquilo que estava prestes a fazer...
Às cinco e pouco da manhã ligo pra uma das amigas com as quais eu supostamente teria saído. Pergunto se alguém teria ligado pra ela. Ela pergunta porque e diz que tem alguma coisa errada nisso, já que ela não estava esperando ligação, exceto a minha própria, já que naquela manhã iríamos para a reunião na "igreja". Eu disse que explicava depois, achando que meus pais não ligariam mais pra ela. Engano meu! Cinco minutos depois que eu desligo, ela retorna e pergunta: "Júlio, onde é que tu tá?". Eu, com a maior cara de pau: "Em casa, por quê?", sem pensar que ela tinha percebido o barulho do mar e do lugar onde eu estava. (Detalhe: Depois da festa, andamos alguns metros até chegar perto da praia, já que os ônibus não paravam antes disso.)
Então ela disse:
- "Teu pai acabou de me ligar perguntando por ti, disse que tu tinha saído comigo."
- "O que foi que tu disse pra ele?" - perguntei, meio transtornado.
- "A verdade..." - disse ela, meio incrédula.
- "Que verdade?"
- "Que tu não saiu comigo, ora!"
Aí ela ficou querendo saber de todo jeito o que tinha acontecido e onde eu estava. Insistiu, mas eu falei que aquela não era uma boa hora e que depois a gente conversava.
Naquele dia, não fui pra reunião. Qdo cheguei em casa, meu pai perguntou pra mim, calmamente: "Onde era que tu tava?"
Menti. Disse que tinha saído, não com aqueles amigos que eu havia mencionado na noite anterior, mas com duas tias, minha prima,(incluindo as duas que mencionei no post passado) o namorado dela e mais algumas pessoas pra um show de humor que eu tava querendo ir faz tempo... Aí ele me olhou nos olhos e disse: "Eu sabia! Mas você devia ter ao menos avisado onde estava. Não dormimos a noite inteira. Tua mãe, agora que foi se deitar. Passamos a noite inteira preocupados com você".
Conversamos mais um pouco depois disso. Eu disse que depois do show fomos jantar, fomos pro apartamento da minha prima assistir um filme e acabei dormindo lá.  Cobri uma mentira com outra. Temi que ele descobrisse, senti medo, mas nada de mais aconteceu.
Naquele mesmo dia, antes de chegar em casa, desci uma parada de ônibus antes da minha e fui na casa da minha prima (que fica há uns 300 metros de onde eu morava antes, da casa dos meus pais), aquela cujo apartamento eu havia dormido naquela noite. Falei com ela e com minha tia. Disse o que tinha acontecido e pedi pra que elas me acobertassem, caso alguém ligasse pra confirmar...
Deu tudo certo, então. Isso tudo num domingo. Na quarta-feira seguinte, nós (minha família imediata) como de costume, tivemos o que chamávamos de "Adoração em Família". Nesse dia, depois do estudo, meu pai me "botou na parede" (com perguntas avassaladoras) de um jeito que eu não aguentei mais esconder. Despejei TUDO. Lógico que eu os poupei dos detalhes, mas mesmo assim causei muito sofrimento. Exatamente como eu já havia previsto. Mais uma vez, meu pai sugeriu que eu contasse tudo pros "pastores" pra que eles resolvessem o que fazer comigo. Na reunião seguinte, contei algumas das coisas que eu tinha feito e eles marcaram uma reunião comigo do sábado seguinte, de manhã. A reunião, chamada "comissão judicativa" levou toda a manhã. Ficou decidido que eu seria "expulso", ou desassociado até quando eu me arrependesse e voltasse atrás.
Quando cheguei em casa dessa comissão, no domingo, meu pai me perguntou o que havia sido decidido. Eu disse. Algumas horas depois, ele me chama e diz: "Olha Júlio, eu não quero expulsar você de casa, mas se você não arranjar um lugar pra ir, vou ter que fazer isso." Saí de casa imediatamente, e fui adivinha onde? Exatamente, na casa "das prima".rs Primeiramente, vou lhes contar o que houve lá.
Quando cheguei lá, minha prima estava fazendo as sobrancelhas. Eu pedi que ela me escutasse por alguns instantes. Mesmo eu naquela hora, não percebia a gravidade da situação e do que estava prestes a me acontecer. Enquanto eu lhe contava o que tinha acontecido, percebi lágrimas caírem em sua face. Depois de alguns minutos terem se passado, ela me pergunta: "Quer falar pra mãe ou quer que eu fale?". Decidimos contar pra minha tia, então. Ela ficou um tanto triste e meio que desesperada, sem entender tudo aquilo, mas mesmo assim, não criticou os meus pais por terem feito isso (o que eu achei extremamente humano e bondoso de sua parte), disse que respeitava aquela religião, assim como todas as outras. Disse que nenhum sobrinho dela ficaria sem ter para onde ir. Sugeriu que eu levasse pra lá as minhas coisas imediatamente, se eu quisesse. Aqui estou, morando com minha tia e minha prima, desde então. (A trezentos metros da casa dos meus pais.) Minha mãe ainda hoje chora muito com saudades de mim. E eu, com saudades dela e de todos. Você pode estar se perguntando: "Por que, se vocês ainda moram tão perto?" Explicarei isso num próximo post.

P.S.: Vou colocar sempre o número do post depois do meu nome, pra que você não se perca na história, querido leitor. Abraço

3 comentários:

  1. Menino,quanta história pra contar! Ahhh Tô assim abismado com tanta informação!Quanta coisa de uma só vez!
    Admiro tamanha coragem rapaz plutoniano!
    bjos!

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  2. Você tem muita história pra contar mesmo...
    "COISA DE FILME"!
    Parece clichê, mas nada mais certo: a vida tem seus altos e baixos, e os conflitos são necessários para o nosso amadurecimento.
    :)

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  3. Fiquei abismado come ssa história. Pq às vezes parece tão ficção que sentimos isso longe da realidade da gente. Eu reclamava [e ainda reclamo] das decisões da minha mãe, mas deveria agradecer! Força menino, que isso tudo engrandece... mesmo que puxe pra baixo e bata com força, no final, terminamos grandes!!!

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